Somos afrodescendentes, qual o problema?
CBN Cascavel

Opinião

Somos afrodescendentes, qual o problema?

Por Gilson Aguiar em 12/07/2023 - 08:00

Na década de 1920 o Brasil discutiu arduamente sua formação. O desejo de criar um sentimento de brasilidade tomou conta da literatura, dos debates políticos, das artes e de um projeto de integração nacional.

A discussão ganhou corpo um pouco antes, quando o processo de decadência do trabalho escravo estava se processando no Brasil. O último país a acabar com a escravidão no ocidente teria que discutir suas origens. Até hoje este é um tabu para os brasileiros.

Os discursos oficiais de mais de 100 anos branquearam o Brasil. Parte considerável dos que estão vivos ainda hoje ouviram nos bancos escolares uma história de formação do país marcada pela valorização explícita ou implícita do elemento ocidental europeu.

A resistência e a violência em incorporar nossa formação afroindígena ainda é considerável, grande, e notada em diversos momentos.

Os números estão aí. Não precisa ir longe para compreender o que a escravidão deixou de legado. Os pretos são mais de 75% das vítimas de homicídio, segundo dados do Mapa da Violência de 2021.

Quando o assunto é renda, os pretos ganham 73% menos que os brancos, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pretos são 70% dos que estão abaixo da linha da pobreza no Brasil.

Sim, há um país que ainda fecha os olhos para sua formação, sua origem, suas raízes e construção enquanto um povo. Há uma discriminação exercida de forma sorrateira, maquiada, camuflada e sínica.

Há um longo caminho a percorrer até o Brasil reconhecer suas verdadeiras origens e o que é enquanto sociedade.

Orgulhosamente somos o país mais afro fora da África, somos o país mais asiático fora da Ásia, temos algumas das maiores colônias europeias fora da Europa. Sim, somos um país de encontros. Por isso, um povo único.

Player Ouça

Notícias da mesma editoria