"Essa Lei é para combater a violência política contra a mulher e garantir o direito efetivo delas"

Direito

"Essa Lei é para combater a violência política contra a mulher e garantir o direito efetivo delas"

Por José Roberto Benjamin em 06/08/2021 - 12:44

"Tem muita gente ainda que acha que mulher foi feita para 'pilotar fogão'; o machismo está muito presente, também, na política partidária. Essa Lei vem para tentar corrigir isso", diz Luciano Katarinhuk, advogado especialista em Direito Criminal e Direito Eleitoral.

Player Ouça Luciano Katarinhuk, advogado especialista em Direito Eleitoral

 

Nesta quinta-feira, 5, foi publicada no DOU a lei 14.192/21, que estabelece regras para prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher.

O que é violência política?

De acordo com a nova lei, violência política contra mulher é toda ação, conduta ou omissão com a finalidade de impedir, obstaculizar ou restringir os direitos políticos delas, não apenas durante as eleições, mas no exercício de qualquer função política ou pública.

A lei altera o Código Eleitoral para proibir a propaganda partidária que deprecie a condição de mulher ou estimule sua discriminação em razão do sexo feminino, ou em relação à sua cor, raça ou etnia. A prática será punida com pena de reclusão, de 1 a 4 anos, e multa. A pena será aumentada em 1/3 se o crime for cometido contra mulher gestante; maior de 60 anos; e com deficiência.

A nova lei também altera a lei dos partidos políticos, para determinar que os estatutos dos partidos contenham regras de prevenção, repressão e combate à violência política contra a mulher. Os partidos terão 120 dias para adequar seus estatutos.

Origem

A lei tem origem no PL 349/15, da deputada Rosângela Gomes.  Na justificativa no projeto, a parlamentar chama atenção para a desproporção entre homens e mulheres que ocupam cargos eletivos na Câmara dos Deputados e no Senado.

"Compreendo que privar a mulher brasileira de uma vida política plena, como demonstrado pelos baixos índices participativos, também constitui uma forma de violência contra a mulher - violência de caráter político que precisa ser eliminada."

 

LEI Nº 14.192, DE 4 DE AGOSTO DE 2021

Estabelece normas para prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher; e altera a Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965 (Código Eleitoral), a Lei nº 9.096, de 19 de setembro de 1995 (Lei dos Partidos Políticos), e a Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997 (Lei das Eleições), para dispor sobre os crimes de divulgação de fato ou vídeo com conteúdo inverídico no período de campanha eleitoral, para criminalizar a violência política contra a mulher e para assegurar a participação de mulheres em debates eleitorais proporcionalmente ao número de candidatas às eleições proporcionais.

 

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

 

Art. 1º  Esta Lei estabelece normas para prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher, nos espaços e atividades relacionados ao exercício de seus direitos políticos e de suas funções públicas, e para assegurar a participação de mulheres em debates eleitorais e dispõe sobre os crimes de divulgação de fato ou vídeo com conteúdo inverídico no período de campanha eleitoral.

 

Art. 2º Serão garantidos os direitos de participação política da mulher, vedadas a discriminação e a desigualdade de tratamento em virtude de sexo ou de raça no acesso às instâncias de representação política e no exercício de funções públicas.

 Parágrafo único. As autoridades competentes priorizarão o imediato exercício do direito violado, conferindo especial importância às declarações da vítima e aos elementos indiciários.

 Art. 3º Considera-se violência política contra a mulher toda ação, conduta ou omissão com a finalidade de impedir, obstaculizar ou restringir os direitos políticos da mulher.

 Parágrafo único. Constituem igualmente atos de violência política contra a mulher qualquer distinção, exclusão ou restrição no reconhecimento, gozo ou exercício de seus direitos e de suas liberdades políticas fundamentais, em virtude do sexo.

 Art. 4º A Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965 (Código Eleitoral), passa a vigorar com as seguintes alterações:

 

"Art. 243. .................................................................................................

 

................................................................................................................. 

 

X - que deprecie a condição de mulher ou estimule sua discriminação em razão do sexo feminino, ou em relação à sua cor, raça ou etnia.

 

................................................................................................................." (NR)

 

"Art. 323. Divulgar, na propaganda eleitoral ou durante período de campanha eleitoral, fatos que sabe inverídicos em relação a partidos ou a candidatos e capazes de exercer influência perante o eleitorado:

 

.................................................................................................................

 

Parágrafo único. Revogado.

 

§ 1º Nas mesmas penas incorre quem produz, oferece ou vende vídeo com conteúdo inverídico acerca de partidos ou candidatos.

 

§ 2º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) até metade se o crime:

 

I - é cometido por meio da imprensa, rádio ou televisão, ou por meio da internet ou de rede social, ou é transmitido em tempo real;

 

II - envolve menosprezo ou discriminação à condição de mulher ou à sua cor, raça ou etnia." (NR)

 

"Art. 326-B. Assediar, constranger, humilhar, perseguir ou ameaçar, por qualquer meio, candidata a cargo eletivo ou detentora de mandato eletivo, utilizando-se de menosprezo ou discriminação à condição de mulher ou à sua cor, raça ou etnia, com a finalidade de impedir ou de dificultar a sua campanha eleitoral ou o desempenho de seu mandato eletivo.

 

Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

 

Parágrafo único. Aumenta-se a pena em 1/3 (um terço), se o crime é cometido contra mulher:

 

I - gestante;

 

II - maior de 60 (sessenta) anos;

 

III - com deficiência."

 

"Art. 327. As penas cominadas nos arts. 324, 325 e 326 aumentam-se de 1/3 (um terço) até metade, se qualquer dos crimes é cometido:

 

.................................................................................................................

 

IV - com menosprezo ou discriminação à condição de mulher ou à sua cor, raça ou etnia;

 

V - por meio da internet ou de rede social ou com transmissão em tempo real." (NR)

 

Art. 5º O caput do art. 15 da Lei nº 9.096, de 19 de setembro de 1995 (Lei dos Partidos Políticos), passa a vigorar acrescido do seguinte inciso X:

 

"Art. 15. ...................................................................................................

 

..............................................................................................................

 

X - prevenção, repressão e combate à violência política contra a mulher." (NR)

 

Art. 6º O inciso II do caput do art. 46 da Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997 (Lei das Eleições), passa a vigorar com a seguinte redação:

 

"Art. 46. ...................................................................................................

 

.................................................................................................................

 

II - nas eleições proporcionais, os debates poderão desdobrar-se em mais de um dia e deverão ser organizados de modo que assegurem a presença de número equivalente de candidatos de todos os partidos que concorrem a um mesmo cargo eletivo, respeitada a proporção de homens e mulheres estabelecida no § 3º do art. 10 desta Lei;

 

................................................................................................................." (NR)

 

Art. 7º Os partidos políticos deverão adequar seus estatutos ao disposto nesta Lei no prazo de 120 (cento e vinte) dias, contado da data de sua publicação.

 

Art. 8º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. 

 

Brasília, 4 de agosto de 2021; 200o da Independência e 133o da República. 

JAIR MESSIAS BOLSONARO

 

Damares Regina Alves

Este texto não substitui o publicado no DOU de 5.8.2021

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